Na última semana foi realizada a Marcha da Maconha, em Florianópolis (SC). Um tema muito polêmico e que divide opiniões é quanto a liberação ou não do consumo da erva no Brasil. Alguns países já consideram a Cannabis como um remédio. Para esclarecer sobre alguns pontos, o presidente Lucas Oliveira, do Instituto Cannabis (InCa) apresenta algumas defesas sobre a liberação do consumo da Machonha.
Blog - Como funciona o Instituto?
Lucas Oliveira - O INCA foi recentemente fundado e sua proposta inicial é criar uma base informações, reunindo todo tipo de documento e disponibilizando-o para o público em geral. Num segundo momento desenvolveremos pesquisas e trabalharemos em cima da criação de uma metodologia para buscar os volumes envolvidos na discussão. Produção e consumo, mesmo ilegal, como se dá, em que proporção. Seria análogo ao Instituto do café, ou do açúcar. Em longo prazo, buscaremos recursos para conduzir pesquisas mais detalhadas, servindo de ponto de apoio institucional para acadêmicos que desejam desenvolver todo tipo de pesquisa que envolva esta temática. Nossa Assembléia de fundação contou com 200 presentes e estamos na fase de registros em cartório, etc.
Blog - Há quanto tempo existe este movimento no Brasil?
Lucas - A marcha da maconha existe no Brasil há 10 anos e no mundo não saberia precisar.
Blog - Como as autoridades vêem a movimentação?
Lucas - As autoridades não são unânimes. Estadualmente temos posturas diferentes. Em Santa Catarina não tivemos problemas até o presente momento (problemas que digo são acusações ou perseguições). A polícia foi avisada e esteve presente em 2009. Não houve nenhum registro de ocorrência. A ONU têm impulsionado a discussão também, pois a Comissão Latino Americana sobre Drogas e Democracia (da qual faz parte Fernando Henrique Cardoso além de outros 2 ex-presidentes de países da região), após vasta análise da política de repressão constatou que mesmo com os investimentos recordistas em violência (Plano Colômbia, mais notadamente) falharam e ao contrário de diminuir o consumo, só aumentou as vítimas, provocando resultados negativos na saúde pública da região. A concepção está mudando no mundo e não tardará para as autoridades do Brasil se darem conta.
Blog - Esta marcha é realizada todos os anos?
Lucas - Sim, sempre no mesmo período.
Blog - Por que a barreira para a liberação da erva é tão grande por nossas autoridades, já que como você mesmo disse, existem estudos que comprovam os benefícios do uso da mesma?
Lucas - Existem muitas teses sobre isso. O filme Grass, produzido pela Super Interessante se foca nesta discussão. Entendo que os motivos que fazem ela ser proibida são de ordem econômica e política. Não saúde, como alegam.
Blog - Vocês têm dados do consumo da Cannabis no Brasil?
Lucas - Os dados são estimados com critérios questionáveis, por isso estamos criando o INCA.
Blog - Hoje quais os países que têm a erva liberada para o consumo?
Lucas - http://www.youtube.com/watch?v=mXlet806a5Q este vídeo traz um panorama de 2009. De lá pra cá vá vários países legalizaram. Argentina por exemplo.
Blog - Isso não poderá gerar mais violência por parte dos traficantes, já que irão perder mercado, quando a maconha for liberada para a venda em farmácias, por exemplo?
Lucas - A violência é produto das desigualdades sociais. Qualquer produto proibido e que tenha consumidores irá atrair pessoas para o negócio que, por ser proibido se torna mais lucrativo. Acredito que a legalização inverterá recursos pra prevenção e saúde pública, invertendo a lógica atual, onde se gasta sem retorno e pior, sem resultado.
Por,
Maíra Rabassa
Jornalista SC 1886
Por,
Maíra Rabassa
Jornalista SC 1886
8 comentários:
Eis aí um tema sempre delicado. Tem gente que é a favor e tem gente que é contra. Não me parece que seja apologia ao consumo se manifestar a favor da liberação, acho que é muito válida a discussão.
É isso aí amigos, Lucas forneceu dados inestimáveis para esta discussão. O mais importante para quem ingressa num debate desse tipo, é ter a coragem de deixar seus pré-conceitos de lado e analisar as informações que dispomos de mente aberta, desapaixonadamente.
Como já foi dito aqui antes, as vantagens de substituir um modelo proibicionista por um mercado regulamentado, não são apenas HIPÓTESES, impõem-se cada vez mais como uma realidade nua e crua.
Para finalizar, gostaria de deixar aqui uma entrevista com Jack E. Cole, ex-policial e fundador do LEAP (Da sigla em inglês, Homens da Lei Contra a Proibição)
http://www.pauloteixeira13.com.br/?p=1818
"E os danos da droga estão aí sem o menor controle. É um equívoco achar que as pessoas vão se drogar mais e que teremos mais problemas. Portugal descriminalizou as drogas em 2001 (mais exatamente o consumo de maconha, cocaína, heroína e meta-anfetaminas) e o consumo entre jovens de 12 a 15 anos caiu 25%. Também caiu 22% entre os jovens de 16 a 18 anos. Porque as pessoas passam a saber mais sobre as drogas. É inevitável. A contaminação por aids com agulhas usadas caiu 71%; as mortes por overdose, 52%. Isso acontece porque as pessoas não precisam ir para os guetos e dividir agulhas. Se você legalizar a droga, sabe o que vai acontecer no dia seguinte nos morros do Brasil? Eles vão estar fora do negócio, não vão ter mais território para defender. Eles só têm armas porque precisam se defender da polícia e das outras gangues."
Apenas uma correção em seu texto: a Marcha da Maconha não ocorreu na data programada devido às fortes chuvas. Foi transferida para o próximo dia 23, as 14:00, no Koxixo's.
Maira, vc perguntou:
"Blog - Isso não poderá gerar mais violência por parte dos traficantes, já que irão perder mercado, quando a maconha for liberada para a venda em farmácias, por exemplo?"
Como assim?? Então, é melhor eu ser maconheiro mesmo, porque assim estou dando meu dinheirinho para os bandidos e então eles ficam calminhos?? Essa é uma solução para você??
Em tempo: e se a proibição funcionasse, e ninguém mais consumisse drogas (não é esse o objetivo?)? Os bandidos não fariam a mesma coisa a que você se refere na sua pergunta??
Caro Lee.
A resposta está no Blog dada pelo presidente do InCa. Acho que já está o suficiente ali. Acredito que não vou mais comentar sobre o tema. Pois cada um tem uma forma de ver os assuntos, e você tem a sua visão!
Então, qualquer dúvida, entre em contato com o Lucas Oliveira. Quem sabe ele poderá te ajudar em suas dúvidas!
Maíra, se fica aqui uma lição é a de que nunca devemos nos fechar cegamente em nossas opiniões pessoais sem analisarmos todos os dados, todas as informações que dispomos.
Não devemos jamais ignorar a ciência. Imagine um hipotético comedor de tomates, que gosta muito de tomates. Agora imagine que estudos científicos apontassem o tomate como cancerígeno.
Se este cara continuar comendo tomates, ignorando estudos científicos, como poderíamos qualificá-lo?
Enfim Rabassa, você trouxe à tona um assunto importantíssimo, que talvez não seja familiar aos seus leitores. Parabéns pela coragem!
E sobre a Marcha da Maconha ser considerada apologia, acredito que esta sua tese já foi derrubada não é mesmo? Primeiro pelo Ministério Público, depois pelo Lucas, e agora pelos seus próprios leitores!
Espero que este episódio tenha servido para revisares seus conceitos.
Marchador,
Se tem coisa que eu entendo são de CORRENTES! E o que se passa aqui, é apenas uma corrente de informações onde o grupo que é a favor da liberação da erva se reuniu e resolveu tomar frente dos questionamentos, assim como da enquete. Tenho como rastrear de onde vêm as respostas, e sei que vêm todas de um mesmo local!
Então, não diga que MEUS LEITORES são a favor de algo, até porque você estaria sendo incoerente. Afinal, sabemos que as respostas vem de um grupo específico! E como tenho coragem, não me importo com o resultado, pois infelizmente não está mostrando a realidade, já que está sendo manipulado. Não é mesmo?!?!
E sim, nunca temi em falar de temas polêmicos, e como eu disse, minha posição é uma, a do grupo de vocês e outra, e outras pessoas têm suas posições, e cada um defende elas da forma que lhes convém!
Uma boa semana!
Maíra Rabassa
Jornalista SC 1886
Maíra querida, a discussão é grátis e aplica-se a todos, não só aos que são à favor da regulamentação da maconha.
Um debate democrático é assim, ambos os lados apresentam suas armas argumentativas, que são então comparadas. Não existe um vencedor, senão ambos, que terão suas idéias recicladas e melhoradas.
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