quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Entrevista: Marlene Soccas fala sobre os anos negros da Ditadura


Entrevista


O que esperar de alguém que se intitulava “pequena burguesa”? Ou então que se assume marxista e já foi presa política? Essa pessoa é Marlene Soccas (Criciúma-SC), 75 anos, dentista, presa em 1970 aos 35 anos em São Paulo, onde se engajou na luta comunista por influencia de Paulo Stuart, deputado esquerdista e seu grande amor. Sem papas na língua ou receios, ela conversou a respeito de tudo que viveu. Confira a entrevista:

Qual a formação ideológica da senhora?
Marlene Soccas:
Até os 28 anos eu era uma pequena burguesa, e fui estudar na USP (em São Paulo) para fortalecer esse meu status: queria mais que ser uma dentista, queria ser uma pesquisadora na área de ciências biológicas. Então, conheci o deputado esquerdista Paulo Stuart, que era um marxista.

E como ocorreu essa mudança?
Marlene:
Transformei-me lentamente. Eu tinha resistência, queria e gostava de ser uma pequena burguesa. Por intermédio dele (Paulo) e dos livros que me emprestava, comecei a observar o mundo. Hoje eu posso dizer que sou uma marxista, apesar de ser algo muito difícil. Dediquei-me as leituras, ao entendimento mesmo do que ele dizia.

E como surgiu a militância?
Marlene:
Dos papos que eu tinha com Paulo.

Quais os fatos que levaram a prisão da senhora?
Marlene:
Comecei a militar como “obreira”, como eram chamadas as pessoas que preferiam a luta não armada. Para nós, o principal era ganhar a mente e o coração das pessoas. E tive o contato com todos que faziam parte do movimento, incluindo aqueles que assaltavam os bancos para o sustento dos aparelhos (nome dado as casas onde os “subversivos” usavam para esconder-se). Quando marcávamos um encontro com um companheiro, já tínhamos um acordo: não deveríamos esperar mais do que 15 minutos. Apesar do atraso, fiquei esperando, quando ele chegou de óculos escuros e acompanhado de dois policiais a paisana. Fui delatada por ele!

E como foi na prisão?
Marlene:
Horrível! Fui presa na época mais pesada da ditadura, que era a do Médici. (Emílio Garrastazu Médici – 1964 – 1974). Foi o pior na matéria de tortura.

A senhora foi muito torturada?
Marlene:
Sim. Os torturadores, que eram do exército, foram formados na Escola Americana (Panamá). Me davam pancadas na ponta dos dedos da mão e me mandavam passar no cabelo, para não ter marcas. Passei também pelo “Cristo Redentor”, onde era presa com os braços abertos; havia a “cadeira do dragão”, uma cadeira de madeira com amarras em couro para braços e pernas. Ali que eu recebia os choques elétricos. Mesmo sendo torturada, ficando nua e sozinha não tentei enfrenta-los.

A senhora delatou alguém?
Marlene:
Sim, meu amigo Marcos Arruda. No caminho ao encontro, eu queria morrer. Fiquei pensando, em me jogar na frente de um ônibus ou sair correndo e levar um tiro. Quando estava sendo interrogada, encontrei um outro companheiro. Os torturadores perguntaram se eu o conhecia. Como não sabia o que dizer, olhei pra ele e perguntei: Tu me conheces A resposta foi negativa. O salvei.

Para finalizar, o que a motivou a escrever e mandar a carta?
Marlene:
A vontade de mudar! Sofri muita tortura pra pouca ação. Minha carta chegou até o Washington Post. Relatei a tortura, o esquadrão da morte, a dor.


Por,
Bruna Soratto
Acadêmica e Colaboradora do Blog

Um comentário:

Anônimo disse...

Que carta?????

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